A terceira edição do Cazumbada, evento promovido pelo Instituto Baixada e pelo Instituto Formação, ocorreu entre os dias 3 e 6 de dezembro de 2024, na Baixada Maranhense. Com a participação de mais de 60 intercambistas e a presença de mais de 15 organizações sem fins lucrativos, nacionais e internacionais, o evento se consolida como um marco no fortalecimento da filantropia comunitária, do desenvolvimento social e do protagonismo local no estado do Maranhão.
Sobre o Cazumbada e a filantropia comunitária
O Cazumbada não é apenas um evento; é uma imersão nos valores que moldam a vida na Baixada Maranhense. Seu nome, “Cazumbada”, vem de Cazumbá, ser mitológico que, entre as brumas do folclore, transita entre os gêneros, se reinventa, se transforma. Assim é a Baixada: fluida, múltipla, vibrante. Um território que dança entre o passado e o futuro, onde a resistência das comunidades se mistura à coragem de seguir criando. O Cazumbá não é estático. Ele é movimento, mudança. Ele é o espelho das águas que, ao mesmo tempo que refletem, seguem seu curso. As tradições ancestrais se encontram com o amanhã, em um fluxo contínuo de renovação e preservação. O Cazumbada celebra isso: a pluralidade que se fortalece na união, a diversidade que se une na resistência.
E é por isso que a filantropia que se pratica aqui não é doada, mas compartilhada. Ela não vem de fora, mas brota da terra, cresce no solo fértil da colaboração e da solidariedade. É um processo coletivo, onde cada mão que se estende fortalece o elo do todo. A verdadeira transformação acontece quando as comunidades se reconhecem e se tornam protagonistas de sua própria história. E o Cazumbada é, acima de tudo, sobre eles — sobre as pessoas que fazem da Baixada Maranhense um lugar de força, resistência e futuro.
As comunidades no centro do palco
A cada edição, o Cazumbada se fortalece como um espaço de conexão com o território, suas culturas, lutas e vitórias. Em 2024, o evento percorreu São Luís e diversos municípios da Baixada. Em Alcântara, iniciamos com uma trilha pelo Quilombo Santa Rosa dos Pretos e a demonstração do processo produtivo do Azeite Babaçu, fonte de renda local. Em Peri Mirim, o Parque Agroecológico da Buritirana foi a base logística e de hospedagem do evento. Em São Bento, conhecemos a comunidade quilombola de Olho D’Água dos Gomes, que apresentou sua moda e escola de samba, destacando a Casa de Muriquinho como polo de desenvolvimento territorial. Em Olinda Nova, a sede do Instituto Baixada anunciou que, a partir de 2025, será gerida de forma compartilhada com jovens empreendedores locais. Em Matinha, tivemos a oportunidade de experimentar a culinária típica e, em Arari, o turismo de base comunitária focado na Pororoca ganhou destaque.
Em cada um desses lugares, o que vimos foi o povo da Baixada como protagonista de sua própria história. Eles não foram coadjuvantes; foram os líderes, os responsáveis por fazer acontecer, trazendo suas histórias, culturas e desafios para garantir que o Cazumbada fosse uma verdadeira celebração da força coletiva. A dedicação de cada Baixadeiro foi fundamental para o sucesso do evento. A todos que contribuíram para que isso fosse possível, nosso sincero agradecimento.
Como a vida, Cazumbada é possibilidade!
O Cazumbada é, portanto, um reflexo do que Guimarães Rosa dizia sobre a vida: ela é cheia de desafios, mas também de possibilidades. E, assim como ele nos instiga a ter coragem diante das dificuldades, o Cazumbada celebra a coragem de todas as pessoas e organizações que, com seus esforços e dedicação, ajudam a construir um futuro mais justo e igualitário para suas comunidades. O evento é, sem dúvida, um espaço de resistência, mas também de esperança, de troca de saberes e de experiências que fortalecem os laços e ampliam as possibilidades de um amanhã.
O legado deixado não é apenas de aprendizado e conscientização, mas também de um marco de transformação social, onde a colaboração entre os diferentes atores – locais e externos – é o que realmente move o desenvolvimento. Esse evento, com sua proposta de filantropia comunitária, mostra que, quando as pessoas se unem, podem transformar seus territórios, não apenas em espaços de vivência, mas em fontes de inspiração para todo o país e mundo. Foram atores conosco nessa edição: W. K. Kellogg Foundation, Global Fund, GIFE, IDIS, IACP, Ponte a Ponte, FUNBEA, Casa Fluminense, Instituto Procomum, Redes da Maré, Fonseca Projetos, Iniciativa PIPA, Batucando, CivSource Africa, ELLAS+, MCLD e Fondo Emerger.
Por fim, o Cazumbada é um exemplo claro de como a filantropia pode ser prática, respeitosa e colaborativa. Guimarães Rosa diz que a vida requer coragem e a gente usa ela para trilhar o caminho da transformação. E é com essa coragem que o evento segue, ano após ano, construindo pontes e criando novas possibilidades para as comunidades da Baixada Maranhense. Nosso agradecimento especial vai para você, nosso convidado, que, mais uma vez, se uniu a nós para vivenciar a experiência única de ser Baixadeiro. Em 2025, estaremos de volta, prontos para continuar essa jornada juntos!