Quem cuida de quem cuida é uma temática insuficientemente abordada considerando a sua importância. Afinal de contas, quem cuida assume sempre uma postura resiliente diante do público cuidado e não é simples nos mantermos conscientes e insistentes diante de realidades que queremos modificar, transformar. A filantropia atua nesse campo. Quando o Estado com suas políticas públicas e econômicas não dá conta de responder às necessidades da população, o investimento social pode contribuir para muitas dessas respostas.
O conceito resiliência foi emprestado da física e refere-se à capacidade de um material para retornar ao normal depois de submetido a uma tensão. O que significa isso, aplicado às pessoas que cuidam? Quem são elas? Dirigentes, coordenadores e equipes de trabalho de nossas organizações e daquelas que são apoiadas (grantee e payee).
O que acontece com essas pessoas? O que fazem? Por onde andam? Antes de entrar mais fundo na reflexão, vamos olhar rapidamente para o mapa da Baixada Maranhense.
Não estamos falando de apenas um município, mas de todo um território.Cuidar desse território implica percorrer estradas, mar, lagos, campos alagados, trilhas.
Reunir, apoiar, acompanhar, avaliar ações e projetos apoiados pela Fundação Baixada possibilita vários sentimentos: alegria, tristeza, ansiedade, esperança, motivação, em um ciclo permanente. O mesmo ocorre com as equipes dos payees. Às vezes, o projeto apoiado avança, outras vezes não. Às vezes precisa de mais tempo, mais apoio, mais gente para o trabalho. Por isso, quem se mantém resiliente na resiliência, precisa ser cuidado. Que forças precisamos ter para superar adversidades próprias e ainda sermos fortes para continuar atuando enquanto as adversidades dos apoiados não são superadas? Como repormos nossas forças? E as forças de quem cuida na ponta, as equipes das organizações ou projetos apoiados que precisam experimentar o que propôs, muitas vezes com a resiliência necessária até o êxito da ação proposta? Quem cuida dessas pessoas?
Na filantropia comunitária essa expressão do cuidado deve ser levada em conta, pois é difícil compreender um cuidado unilateral. E o que contemplaria esse cuidado?
São múltiplas as facetas desse cuidado. Imaginemos outro conceito: o da omnilateralidade, a partir do qual concluímos que nós, seres humanos, temos diversas necessidades referentes a dimensões cognitivas, emocionais, físicas, culturais, entre outras. Uma instituição que cuida de suas equipes, ao compreender essas necessidades, prevê isso no seu planejamento do cuidado de quem cuida.
Simplificando, seguem algumas sugestões, experimentadas:
- Ciclos de debates e estudos, que oxigenam a equipe.
- Sistemática de avaliação e planejamento com as equipes, com diálogo horizontal.
- Observação e escuta atentas aos sinais das equipes. Quais sinais são esses? Quando um profissional começa a se isolar, fica triste, com o empenho e participação reduzindo.
- Empatia e sensibilização mediante tantos casos de ansiedade, depressão e síndromes.
E sempre vale a pena construirmos ambientes agradáveis, lúdicos, com agenda cultural e investimento em intercâmbios e cursos.
Por fim, essa é uma ação pouco vista, mas que precisa ser valorizada.
Podemos seguir juntos, construindo possibilidades.
Por Diane Pereira Sousa e Maria Regina Martins Cabral