Ao todo, 21 municípios do interior do Maranhão compõem a Baixada Maranhense. Cidades como Arari, Alcântara e Palmeirândia são entremeadas por uma abundante biodiversidade oriunda de lagos e rios, e também por saberes e tecnologias sociais de ribeirinhos, educadores e mestres de cultura.
Essas potências, entretanto, nem sempre foram reconhecidas pelo resto do estado e do país. “Estamos vivendo um isolamento agora por causa da pandemia, mas costuma-se dizer que as pessoas da Baixada Maranhense vivem isolamento social há décadas”, detalha Diane Pereira Souza, advogada e articuladora local.
É para reverter esse quadro que, desde 2008, o Instituto Comunitário Baixada Maranhense se dedica a desvelar as potencialidades destas cidades, em um trabalho de arrecadação de fundos e investimento em projetos locais.
“Somos um fundo comunitário, criado pela população local e gerido por ela, para poder investir em iniciativas de transformação para um pensamento de futuro na Baixada”, explica Diane, também superintendente do Instituto. “O fundo é um indutor de possibilidades, e investe em pessoas, projetos e organizações do território. Atendemos desde o agricultor local, um coletivo de jovens ou uma educadora transformadora.”
A organização é um dos poucos fundos comunitários existentes no Brasil. Eles são criados a partir dos desejos de uma comunidade, que por meio da captação de recursos, investe em pessoas e projetos locais, guiados por princípios como coletividade e direitos humanos.
Todo ano, o Instituto abre um edital para escuta da comunidade para entender em quais iniciativas investir. “Usamos uma metodologia que chamamos de ‘auscultar as pessoas’, em que justamente ouvimos o que elas querem. Estamos com edital aberto agora, atentos para as transformações causadas pela pandemia”, explana a superintendente.
Baixadeiros e embaixadeiros: recuperar a autoestima e atuar no território
Nos quase vinte anos de atuação do Instituto Comunitário, a figura do baixadeiro tomou forma como expressão de orgulho em atuar e trabalhar no território de origem. “Todo mundo que nasce nesse conjunto de 21 cidades é baixadeiro. Você não fala que nasceu em São Bento ou Alcântara, fala que é baixadeiro, e isso virou quase uma identidade geopolítica”, comenta Diane.
Outra figura central no processo de articulação são os “embaixadeiros”. O neologismo serve para nomear articuladores centrais, que por sua atuação dentro do território, são reconhecidos como alguém capaz de gerir projetos, mediar processos e buscar fundos para investir em sua ou em outras cidades da Baixada.
Ivanderson Pinheiros Campos é um deles. Morador de Palmeirândia, ele conta que há mais de uma década, nascer na região era se acomodar diante de um provável êxodo rural. “No setor de educação, tínhamos apenas 2% da população com Ensino Superior, e embora tivéssemos pessoas muito qualificadas, não havia o direcionamento sobre o que podíamos fazer com o que sabíamos e produzíamos localmente.”
Formado em design e com pós graduação em Direitos Humanos, o jovem dedicou sua trajetória formativa a trabalhar com coletivos de juventude e de cultura da região, desenvolvendo potenciais de futuro.
Ele é coordenador do núcleo de juventude do Instituto, trabalhando a temática com áreas como cultura e turismo em 16 municípios da baixada. Movimentos de jovens e coletivos culturais de mulheres quebradeiras de coco são alguns exemplos de projetos beneficiados.
“Pelo trabalho e articulação local, hoje a Baixada tem um território 40% graduado, com médicos, educadores, artistas de teatro e outros profissionais qualificados. Não se pratica mais aqui o êxodo rural, é a Baixada que obriga o resto do estado a olhar para ela. Temos universidades federais, escolas técnicas. É a riqueza do conhecimento e das pessoas daqui ampliando as possibilidades do território.”